quarta-feira, 24 de março de 2010

SOBRE A PENA DE MORTE...


A pena de morte, também chamada de pena capital, é uma sentença aplicada pelo poder judiciário que consiste na execução de um indivíduo condenado pelo Estado. Os criminosos condenados à pena de morte geralmente praticam assassinato premeditado.
A expressão pena de morte transita em dois territórios de níveis distintos. No nível estrutural, refere-se ao território dos grandes e fundamentais problemas ontológicos, pois sendo a morte uma pena, o viver dos homens torna-se o de um rebanho de condenados. Existencialmente, a realidade humana poderia ser colocada em termos de ser-condenado-para-a-morte em vez de ser-para-a-morte.
No nível ético, a pena de morte ensejaria a polêmica sobre se há ou não o direito de matar pessoas sob o argumento de que se trata de uma pena contra quem comete algum delito. Nessa polêmica há duas posições básicas, a romântica e a realista.
São românticos aqueles que vêem a harmonia como base do ser do homem e propõem um investimento nessa mesma harmonia em busca de uma felicidade transcendente. São realistas os que postulam o conflito como base do ser do homem e propõem um investimento nesse mesmo conflito em busca de uma felicidade imanente. Os juristas românticos defendem a indisponibilidade da vida humana, alegando que a obediência às leis imutáveis da natureza é pressuposto da felicidade; que a vida é algo dado pela natureza e impossível de ser criada pelo homem; que o homem não pode dispor do que não criou; que matar alguém é sempre um mal.
Segundo a ética aristocrática dos românticos, a pena de morte é injustificável porque é a qualidade do bem que deve ser levada em conta e a vida é um bem da maior qualidade; que deve ser preservada a qualquer custo.
Os realistas jurídicos defendem a disponibilidade da vida humana, alegando que o homem não precisa obedecer às leis da natureza para ser feliz; que o homem tem capacidade de construir sua própria escala de valores; que matar alguém pode vir a ser um bem.
Segundo a ética utilitarista dos realistas, a pena de morte é justificável porque é a qualidade do bem que deve ser levada em conta. O raciocínio é o seguinte: se a vida é o bem mais valioso, o que pode valer mais que uma vida? A resposta lógica é: Duas vidas. Se duas vidas valem mais do que uma, matar uma pessoa para que duas não morram é justo, portanto condenar um serial killer a pena de morte é aceitável porque se evitam mais mortes.
A ética utilitarista vai buscar sua consciência no pragmatismo, corrente filosófica que tira o conceito da palavra verdade do campo da ciência e lança-o para o da política. É nesse campo escorregadio da política que a pena de morte será justificada e o direito, um dos mais potentes instrumentos políticos, fica encarregado de definir, aos trancos e barrancos em quais casos a pena funciona.



BRUNO SANTO

sábado, 19 de dezembro de 2009

O primeiro olhar que lanço é sobre o “Pacote de Projetos” da governadora Yeda Crusius proposto à Assembléia Legislativa e como ele se relaciona com as pessoas. Há no texto três pontos básicos que achei interessantes para a abordagem e que, apesar de relacionados, podem ser lidos de forma aleatória.

O QUE É O PROJETO E POR QUE É RUIM:
Ele consiste basicamente na mudança do piso salarial dos soldados da Brigada Militar para R$ 1.200, com aumento médio de 20%, enquanto o do magistério chegará a R$ 1.500, para 40 horas semanais, adequado a um novo plano de carreira, em elaboração.
O que é fato: o governo federal instituiu um piso salarial para todo o Brasil, ou seja, nenhum professor poderia ganhar menos do que R$ 950,00 por 40h semanais. Entretanto, cada estado tem o direito de organizar o seu Plano de Carreira (conjunto de regras que norteiam os avanços financeiros, promocionais e estruturais de quem é professor da escola pública).
No Rio Grande do Sul, o Plano de Carreiro vem sendo estruturado e negociado com cada governo, há pelo menos 30 anos. Ele é fruto da luta de nosso magistério e não simplesmente da boa vontade dos governantes. Hoje quem entra no Quadro do Magistério Público Estadual, apenas com o Curso Normal, recebe, para trabalhar 20h semanais, o equivalente a aproximadamente R$ 475,00 (o piso salarial prevê os R$ 950,00 para 40h semanais). É a partir desse piso que as vantagens dos professores que se dedicam a agregar mais conhecimento a sua carreira – e, por tanto, a estarem muito mais qualificados para ensinar- são feitas.

Na contramão de tudo isso, o projeto da Yeda prevê o piso de R$ 1.500 para todos os professores, independentemente de seu histórico de qualificação, já que ele estabelece o fim de todas as vantagens e a estagnação do valor por tempo indeterminado. Em outras palavras, aqueles que investem em pós-graduação, mestrado, doutorado, que organizam eventos, fazem publicações, participam de cursos etc. receberão exatamente o mesmo que aqueles que passam a carreira toda com uma formação mínima. Muitos professores, atualmente, por seus esforços em ampliar conhecimento, ganham muito mais do que os R$ 1.500.
A mudança também se transfere para as aposentadorias, pois todas as vantagens conseguidas por professores da ativa também são incorporadas ao salário dos aposentados.

Isso é, no mínimo, desvalorização e desrespeito (para ficar em termos brandos) daqueles que dedicam uma vida toda para ser melhor profissionalmente, e conseqüentemente, para melhorar o ensino da escola pública. Você se sentiria motivado a se qualificar quando isso não significa nada?

*busquei essas explicações junto a uma Professora do Ensino Público (Andréa Schaeffer) e, portanto, trazem consigo grande legitimidade em relação ao assunto.

MAC. RITOCRACIA
O projeto ainda prevê a chamada meritocracia: os servidores ativos poderão participar de um plano de desempenho institucional. Quem aderir receberá, na prática, um 14° salário se o órgão ao qual estiver vinculado alcançar as metas contratualizadas.
Para começo de prosa, a meritocracia é um transplante da lógica norte-americana, o que, naturalmente, me causa inquietação. Isso, porque esse método de ação não foi pensado por brasileiros, logo não tem a menor intimidade com a nossa realidade educacional. Sem falar que ele fere o princípio de igualdade entre os servidores e se alinha ideologicamente com a “cultura de mercado”.
Mas, considerando a proposta, ainda pode-se perguntar: a quem caberia autoridade para avaliar o mérito do trabalho desses profissionais? Certamente, não aos estudantes, os únicos com poder real de mostrar esses resultados, no caso do magistério.
A meritocracia subjuga o trabalho dos professores a metas cartilhinescas, idealizadas sabe se lá por quem e com quais intenções (ah, nesse caso vale lembrar que a proposta vem de um governo neoliberal...), não respeitando as singularidades que o processo de ensinar exige. Só quem realmente vive diariamente em salas de aula sabe que cada grupo, cada aluno, desenvolve um jeito particular de aprender. Você provavelmente já viu um animal sendo adestrado para obedecer a comandos e em troca receber de seu bondoso dono um torrão de açúcar. Posso imaginar a governadora Yeda em um zoológico quando se inspirou a fazer essa proposta para o magistério, só não sei se o amargo salário mínimo é proporcional ao delicioso torrão de açúcar.

SENSO COMUM, O MAIOR ALIADO DA YEDA
Os meios de comunicação “imparciais” noticiaram o Projeto da governadora, sem explicar o que ele implica na prática. Além disso, trataram de adjetivá-lo, algo como nas palavras de Lasier Martins: “Plano de Valorização dos Professores, que vem muito a calhar” e que, como, é de praxe ao figurão, não expôs os motivos para fazer tais adendos. Aos olhos do público leigo, que não recebe a informação completa, muito menos uma análise crítica, o aumento para R$ 1.500 soa como uma boa ação de nossa famigerada governadora. Pois é, e que ironia do destino, ano que vem é justamente um ano eleitoral!
O ponto a que quero chegar é: as pessoas recebem essa informação e, sem questioná-la, apropriam-se dela, e pior, passam a reproduzi-la. Esse sistema é o maior aliado dos políticos, há muito tempo, desde que a mídia se configurou como o quarto poder.
Por tudo que foi dito, é que apelo para todos aqueles que se sentiram indignados com essa política.


Se isso o revolta, é porque você não perdeu sua capacidade mais humana de se solidarizar com o outro frente ao que é injusto. Por favor, não permaneça inócuo a esse tema, os servidores públicos precisam de seu apoio. Não seja um estrangeiro na vida, que aqui passa deixa silêncio e um olhar apático. Posicione-se. Um ato simples, como o envio de e-mails à base aliada da Yeda, deixando claro o seu repúdio ao Projeto é uma ação que faz a diferença. Se os deputados souberem que os eleitores estão de olho em suas decisões, eles passarão a representar verdadeiramente as pessoas – e não aos interesses de um governo ou conchavo político.

Segue a lista com os e-mails dos deputados, é simplesmente copiá-la e colá-la na tua barra de envio, e claro, deixar bem explicito o teu posicionamente e dizer que tu estás de olho nessa gente!

adilson.troca@al.rs.gov.br ajbrito@al.rs.gov.br alberto.oliveira@al.rs.gov.br alexandre.postal@al.rs.gov.br alvaro.boessio@al.rs.gov.br coffy.rodrigues@al.rs.gov.br edson.brum@al.rs.gov.br francisco.appio@al.rs.gov.br frederico.antunes@al.rs.gov.br gilberto.capoani@al.rs.gov.br jeronimo.goergen@al.rs.gov.br joao.fischer@al.rs.gov.br jorge.gobbi@al.rs.gov.br fernando.zachia@al.rs.gov.br mano.changes@al.rs.gov.br marco.peixoto@al.rs.gov.br marquinho.lang@al.rs.gov.br mauro.sparta@al.rs.gov.br nelson.harter@al.rs.gov.br nelson.marchezan@al.rs.gov.br paulo.borges@al.rs.gov.br paulo.brum@al.rs.gov.br pedro.pereira@al.rs.gov.br pedro.westphalen@al.rs.gov.br sandro.boka@al.rs.gov.br silvana.covatti@al.rs.gov.br zila.breitenbach@al.rs.gov.br

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Quebrando a cabeça - VONTADE DE POTÊNCIA

Desde sábado venho estudando a "Vontade de Potência" de Nietzsche, aliás, não vou postar nenhum aforisma do filósofo, simplismente quero apresentar a idéia central. Numa busca incessante por um texto apresentável para mim, para todos nós, que vim a ter a idéia do post. Achei um texto(prometo que vou escrever eu mesmo da próxima vez) que além de abordar de forma simples e direta a idéia da vontade de poder abrange vários temas de forma simples. Peguei de outro blog xD



Vontade de potência

Hoje em dia está cada vez mais escasso o número de pessoas que não julgam outrem pela aparência. Um indivíduo que possui uma boa formação é julgado pela sua aparência e não pelo seu currículo. O materialismo dos últimos séculos tem corrompido a sociedade, que por sua vez, é um aglomerado de pessoas cuja ideologia é a de rebanho. A humanidade desviou-se de sua meta inerente – a da salvação – e hoje baseia a sua vida na tão comentada vontade de potência que Nietzsche tanto alertou. Nesta sociedade o homem que mais tem dinheiro é o mais valorizado, mas na verdade quem deveria ser valorizado é aquele que melhor contribui intelectualmente.
Nós vivemos em um país cujo presidente tem menos grau de escolaridade que um garoto de doze anos, mas mesmo assim o povo o elegeu, pois era um trabalhador. Engraçado mencionar que o cidadão Luís Inácio da Silva seja um trabalhador; usando esse adjetivo dá a entender que o resto não é, mas os verdadeiros trabalhadores são aqueles que influenciam no intelecto das pessoas, como um filósofo ou um escritor. Entretanto, não é de se menosprezar um torneiro mecânico, ou um industriário ou qualquer outro tipo de trabalhador braçal, pois eles possuem uma grande contribuição para a economia mundial. O que eu quero dizer é que o trabalhador braçal – se não possui estudo – continue a contribuir dessa forma, todavia se o mesmo quisesse estudar, seria de muito mais valia para o Estado, pois contribuiria intelectualmente.
A sociedade utópica de Platão, cujo Estado seria governado por filósofos, é ao que me refiro: um lugar onde a intelectualidade é enaltecida e os valores de potência transmutados. Dizer que algumas camadas da população não podem votar seria uma grosseria contra a democracia, mas por outro lado é fato que muitos votam em troca de souvenires, e a proposta do candidato, por sua vez, é ignorada. É triste que alguns indivíduos tenham que pagar caro pela ignorância de outros.
Há também a sociedade de Karl Marx e Friedrich Engels, o tão comentado comunismo. Esse que visa acabar com a propriedade privada e nivelar a economia igualmente entre todas as camadas da população. A intenção é muito boa, pois nos permite sonhar em trabalhar no que quisermos. Já o capitalismo não nos dá essa oportunidade, o sujeito terá de trabalhar onde está o capital, onde o lucro é mais rápido, nos lugares em que o dinheiro é mais facilmente adquirido. Isso influencia no trabalho da pessoa e por isso que nos impede de desenvolver-nos intelectualmente. O capitalismo é como a Igreja da Idade Média, que impedia intelectuais como Pascal e Galileu Galilei de desenvolverem suas teorias, e matava indivíduos como Copérnico. Já o capitalismo não é tão pífio, mas mesmo assim não deixa que um sujeito desenvolva a área desejada, e sim aquela que lhe trará o capital, aquela em que lucrará. Essa vontade de potência é que caracteriza a sociedade contemporânea, os valores que até então eram cultivados, hoje são distorcidos pelo materialismo. As pessoas perderam seu foco principal, por isso o capitalismo triunfou sobre o comunismo, e também é o motivo pelo qual fez o comunismo fracassar. É impossível impor em uma sociedade individualista uma idéia como a igualdade financeira, na qual todos repartiriam e ninguém teria uma propriedade privada.Por outro lado, o comunismo lhe tira o direito de ir e vir, como aconteceu nos países em que foi empregado, e também faz desaparecer aquele ímpeto saudável de competição nas pessoas, o que seria muito ruim para o desenvolvimento. O capitalismo já proporciona essa vontade de superação.
Dizem que a lei do mais forte não existe mais desde a pré-história. Não poderia ser mais falso. Não há a lei do mais forte, no sentido literal do conceito, no entanto, figuradamente, não há nada mais presente e intrínseco à vida capitalista. No Brasil, político poderoso não vai pra cadeia, não deixa de ser rico e não perde poder, muito menos seus direitos e, infelizmente, é o reflexo da política brasileira. É bom que analisemos o caráter dos políticos brasileiros. É o maior exemplo que posso citar de vontade de potência. Quando estão em campanha é um sorriso aqui, um aperto de mão acolá, todavia quando isso cessa, tratam o cidadão com desdém, como se fosse um ser inferior. Ah, esses políticos, tão ricos e, no entanto, tão pobres. Na hora que precisam do voto são os indivíduos mais honestos e fazem propostas que chegam a ser utópicas, entretanto quando assumem o cargo só usam o cargo de maneira a se locupletarem. É como diria Nietzsche: “há homens que nascem póstumos”.
Quem muito alertou da vontade de potência foi Nietzsche, com seu jeito aforismático de ser. Esse que foi um dos maiores gênios que a humanidade já teve. O homem que matou Deus, que criticava fortemente as pessoas com “espírito de rebanho”, era o grande inimigo da igreja no século XIX. Há religiosos que afirmem que Nietzsche vivia enfermo justamente por criticar o Todo Poderoso. Mas ele só abriu os olhos de muitas pessoas, e mostrou o quão deplorável é o cristianismo. Uma religião que matou milhares de pessoas por causas pífias não deve ser respeitada por ninguém, aquela que incentiva o aglomerado de pessoas ignorantes perante idéias distorcidas dos ensinamentos do altruísta Jesus Cristo, este, que segundo Nietzsche, foi o único cristão que existiu. Jesus que pregou o amor ao próximo e quebrou valores hierárquicos e sociais, tornando-se o primeiro indivíduo que alegava ser Messias sem ter o apoio do governo. Não há problema em criar uma doutrina que incentive o altruísmo, entretanto o cristianismo tornou essa idéia um dualismo platônico. O religioso vive sua vida pensando no “reino dos céus”, e esquece o presente. O cristão vive na escuridão da ignorância que fora pregada durante séculos.
A vontade de potência do cristianismo chegou a tal ponto que as ações triunfavam sobre a razão, na qual a igreja é que possuía a verdade,criando assim um monopólio da razão. Hoje encontramos o cristianismo como uma religião decadente em busca de novos adeptos, um que seja ignorante e cego perante a sujeira homérica do cristianismo. O altruísmo é pregado de uma forma hipócrita. A igreja, especialmente a católica, é representada por pedófilos, que quebram o voto de castidade. Como alguém que abusa sexualmente de crianças pode ter moral para falar de altruísmo? Não há como. E o engraçado é que há milhões de pessoas que seguem a sua palavra.O cristianismo nunca existiu em massa, o seu objetivo perdeu-se para sempre na cruz junto com Jesus. A idéia de existir um salvador é ultrapassada, hoje vivemos em um mundo tecnológico, no qual a ciência destruiu os paradigmas (como o sistema geocêntrico na Idade Média) até então incontestáveis.
O mundo evolui, e o problema da vontade de potência de algumas nações dificulta esse processo. Como em pleno século XXI, no qual a não-violência é pregada de forma abundante, pode ainda haver guerras por regiões? Não há resposta conivente. O mundo é um reduto hipócrita, onde poucos se salvam. E ainda há guerras religiosas. Se a religião prega o amor ao próximo, como pode existir uma guerra de caráter religioso? É uma hipocrisia. Um conflito que dura milhares de anos, e ainda eles tem a audácia de denominá-la de santa.
Portanto, estamos de acordo que a vontade de potência é o que caracteriza o homem atual, o objetivo da salvação foi substituído pela mesma. A meta inerente de uma pessoa deve ser aquela na qual lhe trará alegria, a filosofia auxilia um indivíduo a buscar a salvação através dela, de uma forma análoga à religião. O medo da morte e do porvir é superado, e a vontade de potência é transmutada por outra vontade: a da felicidade.

MARCELO LEMOs

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Os outros



Os outros

Quando eu era criança, nunca tive desejo de ter um carro. Porque morava num lugar em que não passavam carros. Lá distante, onde era a Avenida Aparício Borges, onde só minha vista alcançava, eu via que passavam os carros, mas não fazia a menor idéia de quem eram seus donos.

Eu só fui ter desejo de ter um carro quando identifiquei os donos dos carros e vi que eles eram diferentes de mim por eu não ter carro. Foi a minha primeira comparação, o abismo que me levou a achar que os outros eram mais felizes do que eu.

***

O que quero dizer é o seguinte: se olharmos só para o que somos, temos mais chances de sermos felizes.

O diabo é que não é isso que acontece: vivemos nos espelhando nos outros, a nossa aflição consiste em tentarmos ter o que os outros têm, quando não termos mais do que os outros, sermos melhores ou iguais aos outros.

***

Em Cuba, por exemplo, onde todos são pobres, todos ganham pouco, ninguém se julga infeliz.

Os cubanos infelizes são aqueles que sabem que a poucos quilômetros da ilha existe Miami, os EUA, onde as condições de vida dos norte-americanos são infinitamente melhores que as dos cubanos. Isso passa a ser insuportável, pois se instala neles a idéia de que suas vidas são muito piores que as dos seus vizinhos norte-americanos.

***

Em outras palavras, só pode ser feliz quem não acha os outros mais felizes.

Toda a encrenca humana reside em nos compararmos com nossos vizinhos, isto é, com os outros.

Sempre que acharmos que alguém é mais feliz do que nós, acabaremos sendo infelizes.

É muito difícil para os humanos encarar com naturalidade a felicidade dos outros, até mesmo porque aos nossos olhos invejosos os outros são mais felizes do que realmente o são.

O próprio Sartre disse que “o inferno são os outros”.

O que quer dizer que nós teríamos muito mais chances de sermos felizes e realizados se olhássemos só para nós.

***

Por isso é que os livros sagrados dizem que ser rico não é possuir todas as riquezas, no nosso caso muito dinheiro, muitas propriedades, viajar para onde nos apetecer.

Ser rico, dizem os livros sagrados, é contentar-se com o que se tem.

Se há um segredo de felicidade é este: achar que é bastante o que se possui, sem olhar para o que possuem os outros.

Sei que estou dando uma receita quase impossível de seguir, mas também sei que é a única receita capaz de levar uma pessoa a ser feliz.

***

Pelo amor de Deus, isso não quer dizer que o homem não deva ambicionar, até mesmo porque a razão central do progresso dos homens e das nações é a ambição.

Mas a ambição deve ser uma meta, uma trilha a seguir, e não o despeito por ver que os outros têm mais do que nós.

Ou seja, a felicidade está apenas no que somos e no que desejamos ser, mas sem nos importarmos com o parâmetro alheio.

Assim, justo é que queiramos crescer porque vemos que há espaço para crescermos – e não porque entendemos que os outros estão mais crescidos.

Fôssemos ser infelizes porque possuímos menos do que os outros, teríamos que paralisar, cruzar os braços e nunca mais avançar quando constatássemos que outros possuem muito menos do que nós.

*Texto publicado na página XX de Zero Hora dominical

Paulo Santana



Queria eu ser pago para proferir meus pensamentos em páginas de jornais, comentar sobre vários assuntos, postei esse aí pra diferenciar um pouco né! Estou meio "humanístico" ultimamente. Paulo Santana é um pensador, dos poucos que respeito na televisão, a arte e os pensamentos em geral já não tem mais espaço a tempos, me vejo agarrado pelo capitalismo, terei de morrer trabalhando, repito "QUERIA EU GANHAR DINHEIRO ASSIM" hahahaha


segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Será Que Eu Vou Virar Bolor?

Arnaldo Baptista

Composição: Arnaldo Baptista

Hoje eu percebi
Que venho me apegando às coisas
Materiais que me dão prazer
O que é isso, meu amor?
Será que eu vou morrer de dor
O que é isso, meu amor?
Será que eu vou virar bolor?
Venho me apegando ao passado
E em ter você ao meu lado
Não gosto do Alice Cooper
Onde é que está meu rock'n'roll?
Eu acho, eu vou voltar pra Cantareira
Venho me apagando aos meus sonhos
E à minha velha motocicleta
Não gosto do pessoal da Nasa
Cadê meu disco voador?
Onde é que está meu rock?
Onde é que está meu rock'n'roll?



Para não virar bolor, muito menos morrer de dor, é preciso disseminar arte!


Eu sou muito inútil, não tenho nada pra escrever! Por isso vou recomendar arte, verdadeira arte aquela a qual podemos tirar várias conclusões, que só nós podemos elevar nossos pensamentos através dela, que nos faz pensar, etc. Não quero relatar o quanto ao alto atingi os meus pensamentos em "O Lobo da Estepe" quero deixar para vocês lerem e apreciarem esse romance, aliás, é fascinante, são mil coisas, acho também que não tem uma idade certa para lê-lo, simplismente algo recomendado, só não deixem de ler.Não vou deixar influência, elevem os seus pensamentos ao lerem a incrível história de Harry Haller, de minhas conclusões elas estão guardadas, até de utilidade teriam, mas assim seria demasiado vaidoso, adoro ver os outros, ler os outros, cada qual em sua percepção do mundo e de tudo, e me fascina, as pessoas me fascinam! Depois de lerem o livro eu falo mais sobre tal, acontece que já ta ficando calor, e o inverno me deixa com bons pensamentos, verão tem cara de preguiça...


"Em O Lobo da Estepe, considerado o melhor dos livros de Hermann Hesse e sem dúvida um dos romances mais representativos do século XX, temos a história de Harry Haller, um outsider, um misantropo de cinqüenta anos, alcoólatra e intelectualizado, angustiado e que não vê saída para sua tormentosa condição, autodenominando-se “lobo da estepe”. Mas alguns incidentes inesperados e fantásticos o conduzem lenta porém decisivamente ao despertar de seu longo sono: conhece Hermínia, Maria e o músico Pablo. E então a história se desenvolve, guiando-nos num êxtase febril ao seu surpreendente desenlace final."


"Era uma vez um certo Harry, chamado o Lobo da Estepe. Andava sobre duas pernas, usava roupas e era um homem, mas não obstante era também um lobo das estepes. Havia aprendido uma boa parte de tudo quanto as pessoas de bom entendimento podem aprender, e era bastante ponderado. O que não havia aprendido, entretanto, era o seguinte: estar contente consigo e com sua própria vida. Era incapaz disso, daí ser um homem descontente. Isso provinha, decerto, do fato de que, no fundo de seu coração, sabia sempre (ou julgava saber) que não era realmente um homem e sim um lobo das estepes. As pessoas argutas poderão discutir a propósito de ser ele realmente um lobo, de ter sido transformado, talvez antes de seu nascimento, de lobo em ser humano, ou de ter nascido homem, porém dotado de alma de lobo ou por ela dominado; ou, finalmente, indagar se essa crença de que ele era um lobo não passava de um produto de sua imaginação ou de um estado patológico. É inadmissível, por exemplo, que, em sua infância, fosse rebelde, desobediente e anárquico, o que teria levado seus educadores a tentar combater a fera que havia nele, dando ensejo assim a que se formasse em sua imaginação a idéia e a crença de que era, realmente, um animal selvagem, coberto apenas com um tênue verniz de civilização. A esse propósito poder-se-iam tecer longas considerações e até mesmo escrever livros; mas isso de nada valeria ao Lobo da Estepe, pois para ele era indiferente saber se o lobo se havia introduzido nele por encantamento, à força de pancada ou se era apenas uma fantasia de seu espírito. O que os outros pudessem pensar a este respeito ou até mesmo o que ele próprio pudesse pensar, em nada o afetaria, nem conseguiria afetar o lobo que morava em seu interior."


HERMANN HESSE

sábado, 16 de agosto de 2008

Dae Alan!!!

Bah velho, vi tu falando q nada q tu escreveria tu ia achar bom e nem saberia como começar o post...
Tipo... acho que nós somos muito autocriticos!!!
Até tento compor umas musicas mas na minha opinião fico tudo uma bosta!!!
Vem uma galera e me diz: que massa q ficou!!!
Acho q eles tinham q agir como Che Guevara em "Diario de motocicleta" e dizer....
cara tu é um bom técnico de enfermagem, é a isso q vc deve se dedicar, mas sei lá...
o sonho é a energia da alma!!!!!!!!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Pensei em mil formas de começar esse post!

O "problema" é que eu acredito que meus melhores pensamentos acontecem pela noite, ou na ausência de pessoas. E minha ignorância não permite colocar em palavras um início bonito e satisfatório pra esse post(considero sempre os escritos das outras pessoas de alto esplendor e os meus sempre os piores!), pelo menos pra mim, que posso ficar a tarde toda escrevendo e não achar nada disso bom. Seja como for!

É preciso acabar com toda sua vaidade para aprender a ver as coisas verdadeiras, para distanciar-se da ignorância, assim dizia Nietzsche, Schopenhauer. Mas nunca deve-se ter heróis, nem seguir os passos de alguém, torne-se quem tu és! Diante disso eu posso acreditar que não quero seguir nada, que não quero acreditar em coisas frívolas, e me vêm a mente o fato de que meu "eu" é deixado de lado! Então lá vai o trecho de um livro do romantismo:

"A vida humana não passa de um sonho. Mais de uma pessoa já pensou nisso. Pois essa impressão também me acompanha por toda a parte. Quando vejo os estreitos limites onde se acham encerradas as faculdades ativas e investigadoras do homem, e como todo o nosso trabalho visa apenas a satisfazer nossas necessidades, as quais, por sua vez, não têm outro objetivo senão prolongar nossa mesquinha existência; quando verifico que o nosso espírito só pode encontrar tranqüilidade, quanto a certos pontos das nossas pesquisas, por meio de uma resignação povoada de sonhos, como um presidiário que adornasse de figuras multicoloridas e luminosas perspectivas as paredes da sua cela... tudo isso, Wilhelm, me faz emudecer. Concentro-me e encontro um mundo em mim mesmo! Mas, também aí, é um mundo de pressentimentos e desejos obscuros e não de imagens nítidas e forças vivas. Tudo flutua vagamente nos meus sentidos, e assim, sorrindo e sonhando, prossigo na minha viagem através do mundo.

As crianças - todos os pedagogos eruditos estão de acordo a este respeito - não sabem a razão daquilo que desejam; também os adultos, da mesma forma que as crianças, caminham vacilantes e ao acaso sobre a terra, ignorando, tanto quanto elas, de onde vêm e para onde vão. Não avançam nunca segundo uma orientação segura; deixam-se governar, como as crianças, por meio de biscoitos, pedaços de bolo e ameaças. E, como agem por essa forma, inconscientemente, parece-me, que se acham subordinados à vida dos sentidos.

Concordo com você (porque já sei que você vai contraditar-me) que os mais felizes são precisamente aqueles que vivem, dia a dia, como as crianças, passeando, despindo e vestindo as suas bonecas; aqueles que rondam, respeitosos, em torno da gaveta onde a mãe guardou os bombons, e quando conseguem agarrar, enfim, as gulodices cobiçadas, devoram-nas com sofreguidão e gritam: “Quero mais!” Eis a gente feliz! Também é feliz a gente que, emprestando nomes pomposos às suas mesquinhas ocupações, e até às suas paixões, conseguem fazê-las passar por gigantescos empreendimentos destinados à salvação e prosperidade do gênero humano. Tanto melhor para os que são assim! Mas aquele que humildemente reconhece o resultado final de todas as coisas, vendo de um lado como o burguês facilmente arranja o seu pequeno jardim e dele faz um paraíso, e, de outro, como o miserável, arfando sob seu fardo, segue o seu caminho sem revoltar-se, mas aspirando todos, do mesmo modo, a enxergar ainda por um minuto a luz do sol... sim, quem isso observa à margem permanece tranqüilo. Também este se representa a seu modo um universo que tira de si mesmo, e também é feliz porque é homem. E, assim, quaisquer que sejam os obstáculos que dificultem seus passos, guarda sempre no coração o doce sentimento de que é livre e poderá, quando quiser, sair da sua prisão."

Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774) Johann Wolfgang von Goethe

Espero que gostem, muito obrigado pela atenção! ;)