segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Apenas mais uma gaivota no bando?

Amigos, postarei aqui um trecho do livro Fernão Capelo Gaivota do escritor estadunidense Richard Bach. No curto livro, é contada, metaforicamente, a busca de uma gaivota por vôos mais altos, com acrobacias, completamente livres. Por estar sempre querendo mais, não se importando com a opinião das outras gaivotas do grupo, que se contentavam em ser meras aves, é considerado, com o perdão do trocadilho, a gaivota-negra da família (!). Fernão foge e encontra mais gaivotas como ele, migra a um novo bando, onde aprende mais técnicas de vôo até tornar-se experiente e ensinar a gaivotas mais novas.
A história passa boas reflexões, a luta por sua própria evolução e a consciência de passar adiante o conhecimento. Afinal, de que valeria ser uma bela gaivota, com vôos espetaculares e deixar tudo isso morrer com seu corpo? Acredito que a grande dificuldade da humanidade atualmente seja a falta de (um detalhe esquecido, talvez) razão de viver. Em um mundo onde já não sabemos nossas reais prioridades, esquecemos de pensar porque aqui estamos. Fernão, não tinha o objetivo de ser apreciado e mantido à distância como um superior; queria compartilhar seu aprendizado com os demais, contribuir com a evolução do grupo. Com certeza, mais fácil seria viver como uma ave comum, submetida a uma rotina comum, mas isso de nada valeria. Havia possibilidade de expansão de suas habilidades, havia a liberdade a ser descoberta, havia céus novos onde voar.
Segue o trecho:
“Quando voltou a si, a noite já era velha. Flutuava à superfície negra do oceano, encharcado em luar. As asas eram enormes e esfarrapadas barras de chumbo, mas o fracasso pesava-lhe ainda mais nas costas. Desfalecido, desejou que o peso fosse bastante para o arrastar docemente até o fundo, e acabar com tudo.
Ao afundar-se na água, uma estranha voz cavernosa soou dentro dele. "Não há mais nada a fazer. Sou uma gaivota. A minha natureza limita-me. Se estivesse destinado a aprender tanto acerca do vôo, teria mapas em vez de miolos. Se estivesse destinado a voar a altas velocidades, teria asas curtas como o falcão e viveria de ratos em vez de peixes. O meu pai tem razão. Devo esquecer esta loucura. Devo regressar ao seio do bando e contentar-me com o que sou, uma pobre e limitada gaivota."
A voz sumiu-se e Fernão acordou. Uma gaivota passa a noite em terra...A partir desse momento, jurou tornar-se uma gaivota normal. Seriam todos felizes.
Morto de cansaço, arrancou-se da água densa e voou para terra, grato pelo que aprendera: a forma de poupar trabalho voando a baixa altitude.
"Mas não!", pensou. "O que eu era acabou-se; acabou-se tudo o que aprendi. Sou uma gaivota como outra qualquer e voarei como uma delas." Assim, subiu dolorosamente a trinta metros e bateu asas com mais força, apressando-se a chegar a terra.
Sentiu-se melhor depois da decisão de ser apenas mais um dos do bando. Daí em diante não haveria mais laços a prendê-lo à força que o levara a aprender, não haveria mais desafios nem mais fracassos. E era bom deixar de pensar, e voar no escuro em direção às luzes da praia.”

E então, devemos nos recolher a nossas supostas impossibilidades ou aprender a voar sempre mais alto, em uma busca incessante por melhores desempenhos? Apenas mais uma gaivota no bando?
Abraço da Touanda :)

4 comentários:

Janaína T. disse...

Tãti, excelente assunto!
Esse desvio de uma realidade humana para a dos animais me fez lembrar um outro livro, A Revolução Dos Bichos, do George Orwell, que não tem uma intensão tão íntima, é mais de um conjunto de pessoas(no caso, de bichos, claro).
Entendo como a maior reflexião do livro a seguinte: falta de uma razão de viver. Nossa vida toda(generalizando,) se desenvolve dentro de um objetivo maiot: ter, ter um emprego, uma casa, um carro, conforto. Há quem lute a vida toda por isso, e acaba por deixar tudo para outros. Qual é a moral? O objetivo das gaivotas era se alimentar...
Eu sempre gosto de dizer q não tenho lar, q nada me pertence... pq na minha verdade é o que é. Criei outras razões para viver...
Alíás, vlw por emprestar o livro, vou ler logo! abraçoo
contribua sempre que quiser!

Thainá disse...

"Por estar sempre querendo mais, não se importando com a opinião das outras gaivotas do grupo, que se contentavam em ser meras aves, é considerado, com o perdão do trocadilho, a gaivota-negra da família(...)"

bom texto parabéns :)

Allan disse...

Com certeza é muito mais fácil seguir o limitado, o normal, mas tenho medo do conforto, da submissão.

Morrer e não pensar sobre essa questão é o mesmo que não viver.

Unknown disse...

TOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOUAAAAAAAAAANDA SOU TUA FÃ TE AMOTEAMOTEAMOTEAMO

BEIJOS MALU PALÇOMA E TREZZI